Leituras poéticas – Capítulo 76
terra, Fogo, água e ar
Pedaços
Por Majda
Hamad Pereira
Há pedaços em mim
Só retraços
Pedaços em mim
Desgastados
Há pedaços por todos
Os cantos, todos os lados
Pedaços em mim
Pedaços
Há pedaços de mim
Nas ruas
Calçadas
Madrugadas
Pedaços em
Infinitos corredores
Nos dias curtos
Sem cores
Pedaços, pedaços...
Nem o tempo
Nem o vento
Traz de volta
Todos os pedaços arrancados.
Reflexão – Uma leitura possível do poema:
Pedaços
Imagina um espelho
quebrado, com cada pedacinho refletindo uma parte da sua história. É assim que
me sinto lendo "Pedaços". A Majda Hamad Pereira nos leva para um
lugar de dor e melancolia, mas também de busca por nós mesmos. Ela usa imagens
fortes, como "pedaços nas ruas, calçadas, madrugadas", para a gente
sentir como se estivesse caminhando por essas memórias. É um poema que te
convida a juntar seus pedacinhos e se sentir inteiro de novo.
Há
pedaços em mim
Só
retraços
Pedaços
em mim
Desgastados
Nos versos iniciais
de "Pedaços", a voz poética emerge com um tom de introspecção
dolorida, revelando a metáfora central do poema: a fragmentação do eu. A
autora, com precisão cirúrgica, utiliza a linguagem para construir uma imagem
de desmembramento, onde "pedaços" representam tanto as partes
dispersas da identidade quanto as marcas deixadas pelo tempo e pela
experiência. A palavra "retraços" sugere a ideia de memórias
evanescentes, enquanto "desgastados" evoca a sensação de esgotamento
emocional.
Há
pedaços por todos
Os
cantos, todos os lados
Pedaços
em mim
Pedaços
A segunda estrofe
de "Pedaços" aprofunda o tema da fragmentação, utilizando a repetição
da palavra "pedaços" como um eco que ressoa pela estrofe,
intensificando a sensação de dispersão. A expressão "todos os cantos,
todos os lados" cria uma imagem de onipresença da dor, sugerindo que não
há escapatória para a voz poética. A ubiquidade dos "pedaços"
intensifica a sensação de perda, como se a identidade estivesse
irremediavelmente espalhada.
Há
pedaços de mim
Nas ruas
Calçadas
Madrugadas
A terceira estrofe
de "Pedaços" transita do abstrato para o concreto, localizando os
"pedaços" da identidade em cenários urbanos e momentos específicos do
dia. A enumeração de "ruas, calçadas, madrugadas" cria uma imagem
vívida da dispersão, como se a voz poética estivesse deixando rastros de si
mesma em cada esquina e cada hora. A madrugada, com seu simbolismo de solidão e
introspecção, intensifica a sensação de perda e vulnerabilidade.
Pedaços
em
Infinitos
corredores
Nos dias
curtos
Sem
cores
Na quarta estrofe
de "Pedaços", a autora expande o escopo da fragmentação,
transportando-a para um plano simbólico e emocional. "Infinitos
corredores" representam a sensação de estar preso em um ciclo interminável
de dor e desorientação, enquanto "dias curtos/sem cores" evocam a
imagem de uma vida desprovida de alegria e significado. A estrofe, portanto,
funciona como um mergulho no abismo da melancolia, onde a voz poética se
encontra imersa em um estado de profunda tristeza.
Pedaços,
pedaços...
Na quinta estrofe
de "Pedaços", a voz poética se silencia, permitindo que a palavra
"pedaços" ressoe em um eco interminável. A repetição, agora
desprovida de contexto, intensifica a sensação de obsessão, transformando a
palavra em um mantra da fragmentação. As reticências, por sua vez, funcionam
como um hiato no discurso, um momento de suspensão onde a voz poética se recolhe
para contemplar a vastidão da sua dor.
Nem o
tempo
Nem o
vento
Traz de
volta
Todos os
pedaços arrancados.
Na estrofe
conclusiva de "Pedaços", a autora nos confronta com a natureza
definitiva da perda. A personificação do "tempo" e do
"vento", elementos que simbolizam a passagem e a transformação, como
incapazes de restaurar a integridade perdida, reforça a sensação de
irreversibilidade. A palavra "arrancados", com sua carga semântica de
violência e despojamento, evoca a imagem de uma ferida profunda e incurável,
marcando o fim do poema com um tom de melancolia e resignação.
Leituras...
Fragmentação do Ser
A temática da
fragmentação em 'Pedaços' transcende a mera descrição, configurando-se como uma
metáfora da cisão existencial. A voz poética, ao revelar 'pedaços' de si
espalhados, evoca a sensação de um eu desmembrado, resultado de um processo de
desgaste emocional. Essa fragmentação, interpretada como consequência de
traumas e desilusões, configura-se como um dos pilares da poética de Majda
Hamad Pereira.
Perda e Desgaste
A utilização de
'pedaços desgastados' e 'arrancados' em 'Pedaços' configura-se como uma
metonímia da perda, onde a parte representa o todo. A repetição anafórica de
'pedaços' intensifica a sensação de desgaste, como se cada palavra fosse um eco
da dor. A voz poética, ao evocar marcas e cicatrizes, revela a natureza traumática
da experiência humana.
A Busca por Integridade
A busca por
integridade em 'Pedaços' se manifesta como um anseio por reconstruir o eu
fragmentado. No entanto, a voz poética reconhece a impossibilidade de recuperar
a totalidade, expressando uma resignação melancólica. Essa dualidade entre o
desejo de união e a aceitação da perda configura-se como um dos elementos
centrais da poética de Majda Hamad Pereira.
A Impossibilidade de Retorno
A estrofe final de
'Pedaços' funciona como um epílogo da perda, onde a voz poética reconhece a
irreversibilidade do tempo. A personificação do 'tempo' e do 'vento' como
agentes impotentes diante da fragmentação intensifica a sensação de
desesperança. A palavra 'arrancados', com sua carga semântica de violência,
sublinha a natureza traumática da perda.
A importância da autenticidade e da aceitação
O poema
"Pedaços" de Majda Hamad Pereira, através da metáfora da fragmentação
do ser, explora a dor emocional, a passagem do tempo e a busca por identidade.
A obra revela a capacidade da poesia em transfigurar experiências subjetivas em
linguagem universal, convidando o leitor a refletir sobre a fragilidade da vida
e a importância da autenticidade e da aceitação.
Por fim
Imagina um espelho
quebrado, onde cada pedacinho reflete uma parte da nossa história.
"Pedaços" é um poema que te leva a essa reflexão. A Majda Hamad
Pereira usa a poesia para mostrar como a dor, o tempo e a busca por identidade
nos moldam. Ela nos convida a juntar esses pedacinhos, a valorizar cada
experiência e a encontrar beleza na nossa própria jornada.
Poeta Hiran de Melo
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