Leituras poéticas – Capítulo 71

 


terra, Fogo, água e ar

Permito-me

 

Por Majda Hamad Pereira

 

Permito-me

A tristeza

E melancolia

 

Mesmo correndo

Em defesa do contrário

Suporto todas

As intempéries

Do dia a dia

 

Permitindo-me

As lembranças

Do passado.

 

Reflexão – Uma leitura possível do poema:

 

Permito-me

 

O poema 'Permito-me' de Majda Hamad Pereira é um mergulho introspectivo nas camadas da alma poética. A autora nos convida a testemunhar sua jornada de aceitação, onde a vulnerabilidade se entrelaça com a força interior. A imagem das 'intempéries' do dia a dia evoca a resiliência da poetisa, sua capacidade de navegar pelas adversidades. No entanto, ela não se furta à sensibilidade, permitindo-se revisitar as 'lembranças' do passado. Essa dualidade, essa coexistência entre força e fragilidade, é o que torna a persona poética tão cativante. A expressão 'correr em defesa do contrário' revela a luta interna da poetisa, a tensão entre a fuga e a aceitação. O poema se configura como um 'desabafo' sincero, um convite à autenticidade e à honestidade emocional.

 

Permito-me

A tristeza

E melancolia

 

A estrofe inaugural se ergue como um ato de agência poética. 'Permito-me' ressoa como um desafio à norma, uma recusa em silenciar as emoções. Ao invés de ceder à repressão, a poetisa escolhe a vulnerabilidade, abraçando a tristeza e a melancolia como musas legítimas. A simplicidade cortante da linguagem, aliada à brevidade dos versos, intensifica a sensação de um mergulho honesto no eu interior, estabelecendo um tom introspectivo que permeia todo o poema.

 

Mesmo correndo

Em defesa do contrário

Suporto todas

As intempéries

Do dia a dia

 

A segunda estrofe mergulha na dialética interna da poetisa. 'Mesmo correndo' irrompe como um grito de resistência, um contraponto à aceitação da primeira estrofe. A 'corrida' torna-se uma metáfora para a luta entre a vulnerabilidade e a necessidade de proteção, criando uma tensão palpável. A imagem das 'intempéries' revela a resiliência da poetisa, sua capacidade de navegar pelas adversidades do cotidiano. A ambiguidade de 'em defesa do contrário' convida a múltiplas interpretações, sugerindo tanto a fuga da dor quanto a defesa da própria capacidade de sentir, em toda a sua complexidade.

 

Permitindo-me

As lembranças

Do passado.

 

A terceira estrofe completa o ciclo do poema, ecoando a declaração inicial de 'Permito-me'. A repetição do verbo não é mera reiteração, mas um ato de reconciliação com o passado. A poetisa abraça as 'lembranças', reconhecendo-as como parte integrante de sua jornada emocional. Essa conexão com o todo, com o fluxo temporal da experiência, reforça a ideia de que a aceitação dos sentimentos, sejam eles do presente ou do passado, é essencial para a integridade da alma poética.

 

Por fim

 

A linguagem concisa e direta, desprovida de adornos, intensifica o impacto das palavras, convidando o leitor a uma experiência sensorial e introspectiva. A repetição do verbo 'permitir' cria um efeito de eco, um ritmo hipnótico que nos transporta para o universo emocional da poetisa.

 

Poeta Hiran de Melo

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