Leituras poéticas – Capítulo 67

 


Cuidando das Raízes

Casta

 

Por Majda Hamad Pereira

 

Sou do terreiro de meu pai

Das contas da minha mãe

 

No vermelho corrente traz

Herança de gerações

 

Sou carne da minha terra

Sangue da minha raça

 

E onde quer que vá ou faça

Levarei semelhanças e comparações.

 

 

Reflexão – Uma leitura possível do poema:

 

Casta

 

A obra poética ‘Casta’, de Majda Hamad Pereira, convida o leitor a uma imersão introspectiva sobre a própria identidade e ancestralidade. A autora, por meio de versos carregados de simbolismo, tece uma narrativa que evoca a complexidade da experiência humana de pertencimento.

 

Sou do terreiro de meu pai

Das contas da minha mãe

 

Os versos iniciais ‘Sou do terreiro de meu pai / Das contas da minha mãe’ constituem um poderoso ancoramento da identidade do sujeito lírico na cultura afro-brasileira. O terreiro, enquanto espaço sagrado e ritualístico, e as contas, como objetos de fé e devoção, funcionam como símbolos que evocam a ancestralidade e a espiritualidade, elementos fundamentais na construção da identidade cultural.

 

No vermelho corrente traz

Herança de gerações

 

A metáfora do ‘vermelho corrente’ que ‘traz/Herança de gerações’ revela uma estratégia da autora para simbolizar a transmissão da identidade cultural ao longo do tempo. A cor vermelha, tradicionalmente associada à paixão, à força vital e à ancestralidade, confere à herança um caráter dinâmico e pulsante. A imagem do ‘corrente’ sublinha a ideia de continuidade e fluxo, estabelecendo uma conexão entre as gerações e reforçando a noção de pertencimento a um grupo social.

 

Sou carne da minha terra

Sangue da minha raça

 

Os versos ‘Sou carne da minha terra / Sangue da minha raça’ estabelecem uma poderosa metáfora que expressa a profunda conexão entre o indivíduo e a comunidade. A metáfora da ‘carne’ e do ‘sangue’ evoca a ideia de uma identidade compartilhada, fundamentada em laços biológicos e culturais. A terra, como elemento primordial, simboliza a origem e a pertencimento, enquanto a ‘raça’ representa a identidade coletiva e a herança ancestral.

 

E onde quer que vá ou faça

Levarei semelhanças e comparações.

 

A afirmação de que a sujeito lírico levará consigo ‘semelhanças e comparações’ para onde quer que vá revela uma visão complexa e dinâmica da identidade. A ideia de ‘semelhanças’ sugere a existência de um núcleo identitário comum à humanidade, enquanto a ideia de ‘comparações’ sublinha a singularidade de cada indivíduo. A justaposição desses dois conceitos cria um efeito de tensão poética que reflete a complexidade da experiência humana.

 

Por fim

 

A obra poética "Casta" convida o leitor a uma reflexão profunda sobre a própria identidade e sobre a importância da diversidade cultural. Ao explorar as múltiplas facetas da identidade, a autora proporciona uma experiência estética e intelectualmente enriquecedora, que incentiva a valorização das raízes culturais e a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

 

Poeta Hiran de Melo

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