Leituras poéticas – Capítulo 66

 


Cuidando das Raízes

Fêmea

 

Por Majda Hamad Pereira

 

Sou parte de uma era esclarecida

Da matéria preferida

De um homem encorajado

Sou um espelho de falhas

De navalhas afiadas

Pura? Sou nada

Carne putrefata

Bicho? Sou nada

Sou fêmea

Sou dádiva.

 

 

Reflexão – Uma leitura possível do poema:

 

Fêmea

 

O poema "Fêmea" de Majda Hamad Pereira apresenta uma crítica contundente à construção social da feminilidade, desvelando a desumanização da mulher através de versos curtos e impactantes. A autora constrói uma imagem fragmentada da identidade feminina, confrontando estereótipos e expondo suas contradições.

 

A afirmação "Da matéria preferida/De um homem encorajado" pode ser interpretada como a objetificação da mulher, reduzindo-a à condição de objeto de desejo e posse, submetido aos caprichos masculinos. A expressão "matéria preferida" revela uma visão utilitarista da feminilidade, na qual a mulher é tratada como um mero instrumento para a satisfação dos prazeres alheios.

 

A metáfora do "espelho de falhas" e das "navalhas afiadas" revela a relação entre beleza e poder, na qual a mulher é submetida a padrões estéticos inalcançáveis, sob pena de exclusão social. Essa violência simbólica, exercida através de julgamentos e pressões, fragiliza a autoestima e a identidade feminina.

 

Os versos "Pura? Sou nada/Carne putrefata" revelam a relação entre poder e gênero, na qual a mulher é submetida a uma dicotomia binária entre pureza e impureza. A poetisa questiona essa construção social, expondo a hipocrisia e a violência simbólica que a sustenta. A comparação com "carne putrefata" representa a desumanização da mulher, reduzindo-a a um corpo descartável e sem valor, submetido aos interesses do poder patriarcal.

 

A animalização da mulher, presente na afirmação "Bicho? Sou nada", é uma estratégia de poder que visa justificar a opressão e a violência de gênero. Ao ser comparada a um animal, a mulher é desumanizada e privada de seus direitos, tornando-a mais vulnerável à dominação.

 

Através dos versos "Sou fêmea/Sou dádiva", a poetiza utiliza a linguagem como ferramenta de empoderamento, desafiando as representações negativas da feminilidade. Ao assumir a palavra "fêmea" e se autodenominar uma "dádiva", a autora subverte a ordem discursiva, revalorizando a feminilidade e reconhecendo a mulher como sujeito ativo e criador.

 

Por fim

 

Através de uma linguagem poética contundente, o poema "Fêmea" desconstrói as representações negativas da feminilidade e denuncia a opressão e a objetificação da mulher. A autora, ao celebrar a força e a resiliência feminina, contribui para a construção de uma nova identidade feminina, marcada pela resistência e pela autoafirmação.

 

Ao utilizar uma linguagem poética forte e incisiva para desconstruir os estereótipos de gênero e celebrar a força da mulher, a poetiza contribui para a luta por uma sociedade mais justa e igualitária.

 

Poeta Hiran de Melo

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