Leituras poéticas – Capítulo 63

 


Cuidando das Raízes

Engenho

 

Por Majda Hamad Pereira

 

Sou filho da uva

Das contas tuas... desfrutos teus

Sou filho das escravas tuas

Da cana de açúcar

Sou filho, meu Senhor!

Das contas, do linho, da cana e do fio...

Sou sangue teu.

 

Reflexão – Uma leitura possível do poema:

 

Engenho

 

Inserido no contexto histórico da produção açucareira no Brasil, o poema "Engenho", de Majda Hamad Pereira, revela um olhar crítico sobre as relações sociais e de produção da época. A obra, marcada por um intenso lirismo, convida à reflexão sobre as heranças da escravidão e a construção da identidade nacional.

 

Raízes

 

Ao se autodenominar "filho da uva", da "cana de açúcar", do "linho" e do "fio", a poetiza estabelece uma profunda vinculação com a terra e os processos produtivos do Brasil colonial. Essa intertextualidade com a história agrícola e industrial do país revela uma construção identitária complexa e multifacetada.

 

A menção às "escravas tuas" evidencia a marca indelével da escravidão na formação nacional e a luta por reconhecimento e justiça dos descendentes. A relação com o "Senhor", figura emblemática do poder colonial, subverte a ordem estabelecida, ao mesmo tempo em que problematiza as relações de submissão e exploração.

 

A afirmação "sangue teu" revela uma busca por reconhecimento e igualdade, desafiando os cânones sociais da época.

 

Leituras...

 

O poema "Engenho" revela uma complexa teia de significados, interseccionando questões de identidade, poder e natureza. A figura do "filho", produto da miscigenação racial e cultural, simboliza a hibridez característica da formação brasileira.

 

Essa identidade híbrida, contudo, não é celebrada de forma ingênua, mas sim problematizada à luz das desigualdades sociais e das injustiças históricas. Ao se autodenominar "filho das escravas", a poeta denuncia a persistência das heranças da escravidão e clama por reparação e justiça.

 

A constante referência à natureza, por sua vez, evoca uma busca por raízes e por uma identidade mais autêntica, que se contrapõe à desumanização e à exploração.

 

Por fim

 

Através de uma linguagem poética rica em simbolismos, "Engenho" tece um painel complexo e multifacetado da história brasileira, problematizando questões de identidade, poder e desigualdade. A obra, ao mesmo tempo estética e política, convida à reflexão sobre as heranças do passado e os desafios do presente.

 

Poeta Hiran de Melo

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