Leituras poéticas – Capítulo 41
Em busca da semente
Assassinato
Por Majda
Hamad Pereira
A carne ainda quente
O sangue ainda escorre
O corpo rígido, inerte
Nu, de costas.
Reflexão – Uma leitura possível do poema:
Assassinato
Em
"Assassinato", Majda Hamad Pereira nos joga de cara numa cena de
crime, usando palavras que doem e mostram a fragilidade da vida. A vítima nua,
sem defesa, contrasta com a morte fria, nos fazendo pensar sobre o lado sombrio
da gente. O poema é curto e grosso, como um soco no estômago, e a falta de
detalhes nos obriga a imaginar o pior. A linguagem forte e as imagens pesadas
criam um clima de terror, mostrando que a violência é algo que sempre existiu e
... sempre irá existir.
A carne
ainda quente
O sangue
ainda escorre
As expressões
'carne ainda quente' e 'sangue ainda escorre' evocam sensações táteis e
visuais, criando uma imagem quase palpável da violência. A escolha de 'ainda'
enfatiza a temporalidade do evento, contrastando com a ideia de imutabilidade
associada à morte. A justaposição do quente e do úmido com a rigidez da morte
intensifica o contraste e o impacto emocional. A ordem dos versos, com a carne
precedendo o sangue, cria uma progressão narrativa que acompanha a interrupção
brutal da vida. A concisão dos versos, aliada à força das imagens, cria um
efeito de impacto imediato, convidando o leitor a uma imersão visceral na cena
do crime.
O corpo
rígido, inerte
Nu, de
costas.
A imagem do corpo
nu e de costas expõe não apenas a vulnerabilidade física da vítima, mas também
sua desproteção psicológica e social. A nudez, nesse contexto, simboliza a
desumanização promovida pela violência, a perda da autonomia e a violação da
intimidade. Essa imagem, recorrente na literatura, representa a fragilidade da
condição humana e a exposição aos perigos do mundo.
A posição de costas
da vítima cria uma sensação de isolamento e abandono, simbolizando a
invisibilidade e a indiferença da sociedade diante da violência. Essa
representação da nudez dialoga com a tradição artística que explora o corpo como
campo de batalha e como metáfora da condição humana.
Leituras...
A violência
presente no poema transcende a agressão física, englobando também a violência estrutural, que se manifesta nas desigualdades sociais, na
exclusão e na opressão. A imagem do corpo
assassinado simboliza não apenas as vítimas de crimes individuais, mas também
as vítimas de um sistema que perpetua a injustiça.
A obra de Hamad
Pereira, produzida em um contexto marcado por grandes desigualdades e guerras, reflete
a angústia e a inquietação da sociedade contemporânea diante da fragilidade da
vida humana. A violência, nesse contexto, é vista como um sintoma de uma
sociedade doente e desigual. A autora, ao utilizar a linguagem poética para
denunciar a violência, insere-se na tradição literária que busca conscientizar e promover
a transformação social.
A violência, no
poema, revela a fragilidade da vida humana e a inevitabilidade da morte, nos confrontando com o
caráter absurdo
da existência. A obra de Hamad
Pereira, nesse sentido, dialoga com a filosofia existencialista, que enfatiza a
angústia e a liberdade do indivíduo diante da finitude.
A experiência da
violência, como retratada no poema, nos convida a refletir sobre o valor da vida e a importância de aproveitar cada momento. A imagem
do corpo assassinado, em sua nudez e fragilidade, pode ser vista como uma
representação da beleza trágica da existência, evocando a tradição artística
que explora o tema da morte e da transitoriedade da vida.
A autora explora o
horror intrínseco ao ato de matar, buscando provocar uma reação emocional no
leitor e incitá-lo a questionar a natureza da violência. O horror evocado no poema não se limita ao choque
visual da cena do crime, mas também ao horror existencial diante da fragilidade
da vida e da inevitabilidade da morte.
A obra de Hamad
Pereira, produzida em um contexto marcado por grandes impactos causados pela
constante invenções e inovações tecnológicas, reflete a angústia e a
inquietação da sociedade contemporânea diante da violência. O horror, nesse caso, funciona como um espelho que reflete a realidade brutal do mundo, convidando o leitor a confrontar seus próprios
medos e angústias. A autora, ao utilizar a linguagem poética para representar o
horror, insere-se na tradição literária que explora o lado sombrio da natureza
humana.
Por fim
O poema
'Assassinato' de Majda Hamad Pereira, através de uma linguagem concisa e
visceral, nos convida a uma profunda imersão na brutalidade da violência. A
obra, ao explorar a fragilidade da vida humana e a natureza do mal, transcende
o particular, atingindo o universal.
Poeta Hiran de Melo
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