Leituras poéticas – Capítulo 13
Perfumes do Jardim
Onde
anda a minha vida
Por Majda
Hamad Pereira
Onde anda a minha vida
Que não a retomo mais
Foi tomada pelas entradas e saídas
Pelas horas corridas, pelos dias sem paz.
Onde anda a criança
Que não a encontro mais
Foi na estrada do tempo
Levada pelo vento, a deixou para trás.
Onde estarão meus amigos
Já estão velhos demais
Saudosos encontros
Na memória presente, tempos não voltam mais.
Onde anda a minha vida
Está perdida no cais
Vou atrás de mar adentro
Seguindo o roteiro do vento, onde andarás.
Reflexão – Uma leitura possível do poema:
Onde anda a minha vida
O poema "Onde
Anda a Minha Vida" de Majda Hamad Pereira ecoa a melancolia da passagem do
tempo e a sensação de perda que a acompanha. Através de uma linguagem poética
marcada pela interrogação e pela busca, a autora nos convida a uma reflexão
profunda sobre a própria existência, a criança interior e as relações que
construímos ao longo da vida. A poetisa expressa a angústia de não encontrar
mais a própria vida, a criança interior e os amigos de outrora, temas caros à
psicanálise.
Interrogações e Busca
As interrogações
permeiam o poema ("Onde anda a minha vida?",
"Onde anda a criança?", "Onde estarão meus amigos?") e expressam a angústia do eu lírico diante da
sensação de que a vida se perdeu em meio à rotina e às preocupações do dia a
dia.
A busca pela vida,
pela criança interior e pelos amigos de outrora revela a necessidade de
reencontrar o sentido da própria existência.
A psicanálise nos
ensina que a infância e as relações primárias são fundamentais na formação do
indivíduo, e a perda dessas referências pode gerar um sentimento de
estranhamento em relação a si mesmo.
A busca pela
"criança interior" que "ficou para trás" revela a nostalgia
de um tempo de inocência, alegria e espontaneidade. A saudade dessa fase da
vida pode expressar o desejo de reencontrar aspectos autênticos e criativos do
self.
Metáforas
As metáforas
utilizadas no poema ("estrada do tempo", "levada
pelo vento", "cais", "mar adentro", "roteiro do
vento") criam imagens poéticas
que evocam a fragilidade da infância, a rapidez com que o tempo passa e a
incerteza da jornada em busca da vida perdida.
As metáforas
utilizadas no poema podem ser interpretadas como expressões simbólicas de
conteúdos inconscientes. A "estrada do tempo" representa a jornada da
vida, marcada por encontros, perdas e transformações. O "vento"
simboliza as forças que nos impulsionam e nos moldam, enquanto o
"mar" e o "cais" evocam a vastidão da vida e a busca por um
porto seguro.
Melancolia e Passagem do Tempo
A melancolia que
permeia o poema ("dias sem paz", "tempos não
voltam mais") é um sentimento
comum a todos que já se depararam com a passagem do tempo e a sensação de que a
vida está se esvaindo. A saudade dos amigos e dos momentos vividos com eles
reforça a consciência de que o tempo é implacável e não perdoa.
A constatação de
que os amigos "já estão velhos demais" e que os "tempos não voltam mais" evoca a consciência da finitude e da
brevidade da vida. A psicanálise nos ajuda a compreender que a angústia
existencial é inerente à condição humana, e a reflexão sobre o tempo e a morte
pode ser um catalisador para o autoconhecimento e a busca por sentido.
A melancolia que
permeia o poema pode ser compreendida como um afeto complexo, que envolve
tristeza, saudade, e a consciência da perda. A psicanálise nos ajuda a
diferenciar a melancolia da depressão, e a compreender que a experiência da
perda faz parte do processo de luto e elaboração psíquica.
Por fim
O poema "Onde
Anda a Minha Vida" de Majda Hamad Pereira é um retrato poético da angústia
existencial e da busca por sentido em um mundo marcado pela passagem do tempo.
Através de uma linguagem sensível e reflexiva, a autora nos convida a refletir
sobre a nossa própria vida e sobre o que queremos para o nosso futuro.
Poeta Hiran
de Melo
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