Leituras poéticas – Capítulo 12

 


Perfumes do Jardim

Nega-me

 

Por Majda Hamad Pereira

 

Nega-me

Se tens coragem

A tu carne

A sede da vontade

O teu amor

 

Nega-me

Se tens coragem

A tua verdade

A cumplicidade

O teu vigor

 

Nega-me

Se tens coragem

Teus braços

Abraços

Quando não mais puder

 

Nega-me

Se tens coragem

As possibilidades

A continuidade

Enquanto vida tiver.

 

Reflexão – Uma leitura possível do poema:

 

Nega-me

 

O poema "Nega-me" de Majda Hamad Pereira é um mergulho intenso e paradoxal na complexidade das relações humanas. Através da repetição do imperativo "nega-me", a autora cria uma atmosfera de urgência e paixão, explorando a tênue linha que separa a necessidade de entrega do anseio por autonomia.

 

Metáforas e Imagens

 

As metáforas e imagens utilizadas no poema evocam as diversas dimensões da experiência humana, com foco na relação amorosa.

 

Corpo e Desejo

 

Nega-me

Se tens coragem

A tu carne

A sede da vontade

O teu amor

 

A primeira estrofe concentra-se na dimensão física e sensual do relacionamento. A "carne" representa o corpo, a pulsão, o desejo carnal. A "sede da vontade" expressa a intensidade do querer, a busca por satisfação. O "amor" surge como um elemento central, permeando as outras dimensões da experiência humana.

 

Emoções e Intelecto

 

Nega-me

Se tens coragem

A tua verdade

A cumplicidade

O teu vigor

 

A segunda estrofe aprofunda a dimensão emocional e intelectual da relação. A "verdade" pode ser entendida como a essência do ser, aquilo que se revela ao outro. A "cumplicidade" expressa a conexão profunda, o entendimento mútuo. O "vigor" representa a força, a energia vital que emana do outro e que nutre a relação.

 

Contato Físico e Aconchego

 

Nega-me

Se tens coragem

Teus braços

Abraços

Quando não mais puder

 

A terceira estrofe evoca a necessidade de contato físico, de acolhimento. Os "braços" e os "abraços" simbolizam o desejo de união, de proteção. O verso "Quando não mais puder" sugere a consciência da finitude, da fragilidade da existência.

 

Existência e Continuidade

 

Nega-me

Se tens coragem

As possibilidades

A continuidade

Enquanto vida tiver.

 

A quarta estrofe alarga o escopo da reflexão para o plano da existência. As "possibilidades" representam as oportunidades, os caminhos que se abrem. A "continuidade" expressa o desejo de que a relação perdure, que se projete no futuro. O verso "Enquanto vida tiver" reafirma a consciência da brevidade da vida e a importância de viver intensamente cada momento.

 

Paradoxo e Desafio

 

O poema se estrutura sobre um paradoxo central: o desejo de ser negado para que o outro se revele em sua plenitude. A poetisa parece desafiar o interlocutor a negar aquilo que ele tem de mais essencial: sua carne, sua vontade, seu amor, sua verdade, sua cumplicidade, seu vigor, seus braços, seus abraços, suas possibilidades, sua continuidade. Ao negar tudo isso, o outro se revela em sua singularidade, em sua força, em sua capacidade de amar.

 

Por fim

 

"Nega-me" é um poema que pulsa com a força da paixão, com a intensidade do desejo, com a consciência da finitude. Majda Hamad Pereira nos convida a uma reflexão profunda sobre a complexidade das relações humanas, sobre a necessidade de entrega e a busca por autonomia, sobre a importância de viver cada momento com intensidade.

 

Poeta Hiran de Melo


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