Leituras poéticas – Capítulo 09
Perfumes do Jardim
Fúria
Por Majda
Hamad Pereira
Rasga-me o peito
Como um cão feroz com a carne
Esmaga-me nas tuas entranhas
Prenda-me com as garras do destino
Fazendo da minha vida a tua
Como uma mistura de cores
Cúmplice nos amores
Ou solta-me.
Reflexão – Uma leitura possível do poema:
Fúria
O poema
"Fúria" de Majda Hamad Pereira é uma explosão poética que captura a
essência crua e visceral da paixão amorosa. Através de uma linguagem poderosa e
imagens impactantes, a autora nos transporta para o âmago de um relacionamento
intenso, onde o amor e a dor se entrelaçam de forma complexa e, por vezes,
contraditória.
A análise do poema "Fúria",
de Majda Hamad Pereira, pode ser feita verso a verso, explorando a intensidade
das emoções e as metáforas impactantes que a autora usa para transmitir um
desejo conflituoso e a dor de um relacionamento que, ao mesmo tempo, é
apaixonante e doloroso. O poema traz uma sensação de luta interna, de entrega,
mas também de um forte desejo de liberdade.
Rasga-me
o peito
O poema começa com
uma metáfora intensa e violenta. "Rasgar o peito" transmite uma dor
profunda, quase impossível de suportar, e pode ser visto como uma imagem do
sofrimento emocional. O verbo "rasga" sugere um corte abrupto e
doloroso, evidenciando a urgência e a brutalidade do desejo ou da dor que o eu
lírico sente. É como se houvesse um impulso de entrega, um desejo de ser
dilacerado pela intensidade das emoções, como se o sujeito quisesse se perder
completamente na dor.
Como um
cão feroz com a carne
A comparação com um
"cão feroz com a carne" amplifica a violência do momento. O cão,
feroz e instintivo, representa algo selvagem e implacável, e a carne aqui é o
corpo, talvez até a vulnerabilidade do eu lírico. Essa imagem de um cão que age
sem pensar, movido apenas pela vontade, reflete como o eu lírico se sente
consumido pela paixão ou pelo desejo de um amor destrutivo, sem controle e sem
compaixão. "Carne" também funciona como uma metáfora para o corpo
físico, sugerindo que a dor não é só emocional, mas algo visceral, quase
palpável.
Esmaga-me
nas tuas entranhas
"Esmaga-me nas
tuas entranhas" transmite uma sensação de sufocamento e opressão, como se
o eu lírico estivesse sendo pressionado pelas suas próprias emoções ou pelo
poder do outro. "Entranhas" sugere algo profundo e interno, quase
incontrolável. Essa imagem, que remete ao centro do ser, torna a violência
ainda mais pessoal e íntima. Esmagar nas entranhas pode representar uma entrega
total ao sofrimento ou ao amor, a ponto de se deixar consumir por ele.
Prenda-me
com as garras do destino
O uso das
"garras do destino" é uma metáfora forte, mostrando que o eu lírico
se sente preso por algo maior que ele mesmo, como o destino. As
"garras" trazem a ideia de força, controle e algo que agarra e não
solta, tornando tudo impossível de escapar. Nesse momento, o eu lírico se vê
aprisionado pelas circunstâncias da vida ou por uma relação, com o destino
exercendo um poder sobre ele, como se fosse refém de um sofrimento ou de um
amor que não consegue controlar.
Fazendo
da minha vida a tua
Esse verso sugere uma mistura das identidades, onde o eu lírico se sente
consumido pelo outro, como se sua própria vida fosse tomada pela do outro. A
entrega é tão profunda que a individualidade parece desaparecer. Isso traz a
ideia de se perder no outro, sacrificando a própria identidade por causa do
amor ou da relação. "Fazer da minha vida a tua" é como uma rendição
total, uma fusão em que o eu lírico se dissolve na pessoa amada.
Como uma
mistura de cores
A "mistura de
cores" cria uma imagem mais abstrata, cheia de complexidade e ambiguidade.
As cores podem representar as várias emoções que se misturam na relação — amor,
dor, prazer, sofrimento — formando um quadro vívido, mas também caótico. A
mistura sugere que o eu lírico está vivendo uma montanha-russa de sentimentos
que não podem ser facilmente separadas ou compreendidas, tudo se fundindo em
uma experiência emocional intensa.
Cúmplice
nos amores
A palavra
"cúmplice" traz a ideia de uma parceria, mas também de algo envolto
em segredos ou cumplicidade, o que pode ser tanto bom quanto ruim. O eu lírico
se vê preso a uma relação com o outro, talvez um jogo de amor e dor, onde ambos
são parceiros, mas não necessariamente de uma forma saudável. A cumplicidade
aponta para uma intimidade profunda, mas que pode ser igualmente destrutiva.
Ou
solta-me
O poema termina com
um pedido direto e urgente: "Ou solta-me". Esse verso traz uma
quebra, uma última tentativa de escapar dessa relação e dessa carga emocional.
É um grito por liberdade, como se o eu lírico estivesse preso em uma relação
que o consome e agora implora para ser libertado dessa prisão emocional. Esse
pedido final interrompe a espiral de dor e desejo, mostrando que, apesar de
toda a entrega, o eu lírico ainda busca autonomia, separação e liberdade.
Leituras...
A força avassaladora e incontrolável da
paixão
As metáforas
utilizadas no poema são como pinceladas fortes que pintam um quadro de emoções
intensas. A comparação do amor com um "cão feroz com a carne" e com
"as garras do destino" revela a força avassaladora e incontrolável da
paixão, que pode tanto ferir quanto aprisionar. As imagens de "rasgar o
peito" e "esmagar nas entranhas" evocam a dor e a violência que
podem estar presentes em um relacionamento amoroso, mostrando que o
relacionamento amoroso nem sempre é um mar de rosas.
Dualidade do Amor
O poema explora a
ambivalência do amor, mostrando que ele pode ser tanta fonte de prazer
("mistura de cores", "cúmplice nos amores") quanto de
sofrimento ("rasga-me o peito", "esmaga-me nas entranhas").
Essa dualidade é expressa de forma clara no verso final "Ou
solta-me", que revela o desejo de liberdade e autonomia do eu lírico, que
anseia por um amor que não o prenda, mas que o deixe livre para ser ele mesmo.
Entrega e Submissão
Os versos
"Fazendo da minha vida a tua" e "Prende-me com as garras do
destino" expressam a entrega total do eu lírico ao amado, que se submete à
sua vontade e destino. Essa entrega pode ser vista como uma forma de amor
incondicional, mas também pode ser interpretada como uma perda de si mesmo em
nome do outro.
Por
fim
O poema
"Fúria", de Majda Hamad Pereira, é uma reflexão profunda e instigante
sobre a natureza complexa do amor-paixão, que pode ser ao mesmo tempo fonte de
alegria e de dor. Através de uma linguagem poética expressiva e impactante, a
poetiza nos convida a mergulhar nas emoções intensas do eu lírico e a refletir
sobre a nossa própria experiência amorosa.
Poeta Hiran
de Melo
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