Leituras poéticas – Capítulo 02


Perfumes do Jardim

Sou Dos

 

Por Majda Hamad Pereira

 

Sou dos preferem

A leveza do ser

Dos que a procuram

Pelo simples prazer

 

Sou daqueles

Que gostam do orvalho

Que a vaidade seja

A última carta do baralho

 

Sou dos que amam o lírico

Que curtem o entardecer

Dos que detestam pobres de espíritos

Dos que aceitam dignos, o envelhecer

 

Sou dos que comem a verdade

Dos que dormem seguros

Dos que choram saudades

Dos que amam no escuro.

 

Reflexão – Uma leitura possível do poema:

 

Sou Dos

 

Em 'Sou Dos', Majda Hamad Pereira esboça um retrato íntimo e reflexivo do eu lírico, revelando uma identidade marcada pela busca pela autenticidade e pela conexão com a natureza. A repetição insistente de 'Sou dos' funciona como um mantra, afirmando uma pertença a um modo de ser específico. A poetiza contrapõe a vida urbana à rural, o artificial ao natural, construindo uma identidade que valoriza a simplicidade e a introspecção.

 

Estrutura e Forma

 

A estrutura do poema 'Sou Dos' revela uma cuidadosa construção que reflete o conteúdo expresso. Os versos curtos e concisos, aliados à repetição da expressão 'Sou dos' no início de cada estrofe, conferem ao poema um ritmo ágil e marcante, enfatizando a identidade forte e definida do eu lírico.

 

A escolha por uma linguagem simples e direta, marcada pela ausência de rebuscamentos, contribui para a criação de uma atmosfera intimista e confessional, aproximando o leitor da experiência do eu lírico. Além disso, a sonoridade do poema confere uma musicalidade que intensifica a emoção expressa nos versos.

 

Sou dos preferem

A leveza do ser

Dos que a procuram

Pelo simples prazer

 

Nos primeiros versos, a autora nos convida a embarcar em uma jornada interior, onde a 'leveza do ser' é o destino. Mas o que significa essa leveza? Seria a ausência de preocupações, a liberdade de amarras emocionais, ou simplesmente a capacidade de encontrar alegria nas pequenas coisas da vida?

 

Ao se identificar com aqueles que 'preferem a leveza do ser', o eu-lírico nos convida a refletir sobre nossas próprias escolhas. Em um mundo cada vez mais complexo e acelerado, a busca pela simplicidade e pelo prazer genuíno se torna um ato de resistência.

 

A leveza aqui não é sinônimo de superficialidade, mas sim de uma profunda conexão com a essência da vida. É a capacidade de apreciar o orvalho da manhã, o pôr do sol no horizonte e a beleza das relações humanas. É a liberdade de ser autêntico, de viver em harmonia com seus valores e de encontrar alegria no simples fato de existir.

 

Sou daqueles

Que gostam do orvalho

Que a vaidade seja

A última carta do baralho

 

Nesta estrofe, o eu-lírico nos transporta para um mundo de sensações sutis e delicadas. Imagine a brisa fresca da manhã, o orvalho cintilante nas pétalas das flores, a pureza que se renova a cada amanhecer. É essa beleza fugaz e genuína que o eu-lírico valoriza acima de tudo.

 

Em contraste, a vaidade é relegada a um plano distante, como a 'última carta do baralho'. Essa imagem forte e vívida nos mostra que, para o eu-lírico, a busca por reconhecimento externo e a preocupação com a aparência são irrelevantes. Ele prefere a beleza natural e autêntica, a simplicidade que se encontra nas pequenas coisas da vida.

 

A escolha do orvalho como símbolo de valorização revela uma profunda conexão com a natureza e um apreço pela beleza em sua forma mais pura. É como se o eu-lírico encontrasse na natureza um espelho de sua própria alma, refletindo a pureza e a simplicidade que ele busca em sua própria vida.

 

Sou dos que amam o lírico

Que curtem o entardecer

Dos que detestam pobres de espíritos

Dos que aceitam dignos, o envelhecer

 

Nesta estrofe, o eu-lírico se revela como um apreciador da beleza em todas as suas formas, seja na poesia, na arte ou na natureza. Ele se identifica com aqueles que se emocionam com o lírico, que encontram na arte um refúgio para a alma.

O entardecer, com sua luz suave e cores quentes, é uma metáfora para um momento de contemplação, de introspecção e de conexão com o eu interior. É um tempo de silêncio, de paz e de reflexão sobre a vida.

 

Em contraste, o eu-lírico expressa sua repulsa pelos "pobres de espíritos", aqueles que não conseguem apreciar a beleza, a emoção e a profundidade da vida. São pessoas que vivem na superfície, que se preocupam apenas com o material e que não conseguem se conectar com o mundo interior.

 

A aceitação do envelhecer de forma digna é um sinal de maturidade emocional, de sabedoria e de respeito pelo tempo. O eu-lírico compreende que a vida é um ciclo, que cada fase tem sua beleza e que o envelhecimento é uma oportunidade de crescimento e aprendizado.

 

Sou dos que comem a verdade

Dos que dormem seguros

Dos que choram saudades

Dos que amam no escuro

 

Na última estrofe, o eu-lírico nos convida a adentrar seu mundo interior, um lugar onde a verdade é o alimento que nutre a alma. Ele se descreve como alguém que se alimenta da verdade, que busca a autenticidade em cada aspecto da vida.

 

A segurança ao dormir é um reflexo da paz interior conquistada, da ausência de remorsos e da confiança na jornada da vida. É como se o eu-lírico encontrasse na quietude da noite um refúgio para a alma, um momento de descanso e renovação.

 

O choro das saudades revela a sensibilidade do eu-lírico, sua capacidade de se conectar com as emoções e de preservar a memória afetiva. É como se as lágrimas fossem um tributo aos momentos vividos, às pessoas amadas e às lembranças que moldaram sua identidade.

 

O "amar no escuro" é uma metáfora para um amor que transcende a superficialidade, que se manifesta na intimidade e na entrega. É um amor que não precisa de holofotes, que se nutre da cumplicidade e da conexão profunda entre as almas.

 

Ao ler esses versos, somos convidados a refletir sobre nossa própria jornada interior, sobre nossos valores e sobre o que realmente importa para nós. O poema nos convida a buscar a verdade, a cultivar a paz interior, a valorizar as relações humanas e a amar de forma autêntica e incondicional."

 

Por fim

 

O poema que oferece uma reflexão lírica sobre a identidade, os valores e a busca por um modo de vida mais autêntico e profundo. Através de contrastes e imagens poéticas delicadas, Majda Hamad Pereira traça um retrato de quem escolhe viver com mais sensibilidade, longe da superficialidade e da ostentação.

 

Poeta Hiran de Melo 

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